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quarta-feira, 4 de julho de 2012

A Diabetes da Tia Jans

Quando voltei do médico para casa com a triste notícia de que minha tia Jans tinha no máximo 3 semanas de vida – por conta da diabetes - fizemos uma reunião de família: mamãe, Tia Anna, papai, Betsie e eu. Todos concordamos em que ela precisava saber logo. 

- Vamos contar-lhe todos juntos, papai decidiu, mas eu falarei as palavras necessárias. Talvez... seu rosto se iluminou um pouco, talvez ela se alegre de pensar em tudo que já realizou. Ela dá tanta importância a realizações (obras de caridade). E quem sabe se ela não está certa? 

Assim, subimos em fila a escada para os quartos de Tia Jans. 

Papai bateu à porta. 

- Entre, disse ela. E depois concluiu como sempre fazia, e feche a porta antes que eu pegue uma corrente de ar. Estava sentada à sua mesa redonda de mogno, escrevendo um novo apelo em favor do seu centro para soldados. Ao ver quantas pessoas entravam, largou a caneta. Olhou de um para outro até chegar em mim, e aí soltou uma exclamação sufocada. Era sexta-feira de manhã, e eu ainda não havia levado o resultado do exame para ela. 

- Minha querida cunhada, começou papai gentilmente, há uma viagem feliz que cada filho de Deus tem que fazer mais cedo ou mais tarde. Sabe, Jans, alguns vão a ele de mãos vazias, mas você não! 

- Todos esses clubes..., aventurou-se Tia Anna. 
- Seus panfletos..., ajuntou mamãe. 
- O dinheiro que a senhora levantou..., disse Betsie. 
- Suas palestras..., comecei. 

Nossos bem intencionados esforços, porém, deram em nada. Aquele rosto orgulhoso abateu-se bem diante de nossos olhos. Tia Jans levou as mãos ao rosto e começou a chorar. 

- Vazia! disse por fim, entre lágrimas. Como é que se pode dar algo a Deus? Que lhe interessam nossas ninharias? 

Enquanto a observávamos quase sem poder acreditar, ela descobriu o rosto e, com lágrimas escorrendo, murmurou: 
- Senhor Jesus, eu te agradeço porque temos de ir a ti de mãos vazias. Eu te agradeço porque, na cruz, tu fizeste tudo, tudo mesmo; e é só isto que precisamos saber com certeza, na vida e na morte. 

Mamãe a abraçou e as duas ficaram unidas por um momento. 
Depois, com um rápido movimento do lenço e um ruidoso assoar do nariz, ela nos fez saber que o instante de sentimentalismos estava findo. 
- Se me deixarem a sós, disse, pode ser que eu ainda faça alguma coisa. 

Deu uma olhada para papai, e por aqueles olhos sérios passou, de leve, um brilho meio maroto. 

- Não que o trabalho importe, Cásper; não importa mesmo; mas - ela nos despachava dali - não vou deixar a mesa atravancada para alguém ter de arrumar para mim.

- Trecho do Livro "Refúgio Secreto", de Corrie ten Boom.

terça-feira, 3 de julho de 2012

As Dificuldades Que Nos Espera

Enquanto minha irmã Betsie e eu tomávamos café de pé junto ao fogão, contei a ela sobre a visão que eu tinha tido: Vi uma espécie de carroção velho, estranho e muito antigo, e que parecia totalmente fora de lugar ali. Ele se arrastava pesadamente, puxado por quatro enormes cavalos pretos. 

Para minha surpresa, vi-me assentada nele. Papai também estava lá. E Betsie. E havia ainda outras pessoas, alguns conhecidos, outros não. Reconheci Pickwick, Toos, Willem e Peter entre eles. Todos estávamos sendo levados. O pior de tudo é que não podíamos sair do carro. Ele nos levava para longe. Eu sabia que era para muito longe, mas nós não queríamos ir. 

- Será que por estar com medo, estou vendo coisas? Mas não foi imaginação, foi real. Será que foi uma visão, Betsie? 

Com a ponta do dedo, Betsie desenhava qualquer coisa sobre a superfície de madeira da pia, tornada lisa pelo uso de várias gerações de ten Boom. - Não sei, respondeu suavemente. Mas se foi Deus que quis nos mostrar as dificuldades que nos esperam, estou contente de saber que ele está ciente de tudo. É por isso que às vezes ele nos mostra as coisas. É para ficarmos sabendo que aquilo também está nas mãos dele.

- Trecho do Livro "Refúgio Secreto", de Corrie tem Boom.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Lugar Seguro


Certa noite, fiquei revirando na cama durante uma hora, enquanto escutava o barulho da guerra sendo travada lá fora. Afinal, ouvi um barulho na cozinha. Minha irmã Betsie estava lá. Desci e fui vê-la. Ela estava fazendo chá. Trouxe-o para a sala de jantar, cujas janelas havíamos recoberto com papel grosso e preto, e pôs na mesa a nossa melhor louça. Ouviu-se uma explosão a alguma distância dali; os pratos tremeram no armário. 

Ficamos uma hora conversando e saboreando o chá, até que finalmente o zumbido dos aviões cessou, e o céu ficou em silêncio. Dei boa-noite a Betsie, e subi para o meu quarto, tateando no escuro. A claridade desaparecera. Pus as mãos na cama; aqui estava o travesseiro. Então, minha mão se chocou com um objeto duro e cortante. Senti o sangue escorrer de um dos dedos. Era um pedaço de metal de bordas irregulares: um estilhaço de bomba, de cerca de trinta centímetros de comprimento. 

- Betsie! 
Corri escada abaixo com o estilhaço na mão. Fomos para a sala de jantar, e pusemo-nos a examiná-lo à luz da lâmpada, ao mesmo tempo que Betsie cuidava do ferimento. 
- No seu travesseiro..., murmurou ela várias vezes. 
- Betsie, se eu não tivesse ouvido você na cozinha. Ela colocou um dedo sobre meus lábios. 

- Não diga nada, Corrie. No reino de Deus não há "se". E também não há um lugar que seja mais seguro que outro. O único lugar seguro é o centro da vontade de Deus. Corrie, vamos orar e pedir-lhe que possamos sempre saber qual é a sua vontade.

- Trecho do Livro "O Refúgio Secreto", de Corrie ten Boom.

domingo, 1 de julho de 2012

Pesada Demais

Muitas vezes, eu aproveitava as viagens que fazia de trem com papai para discutir assuntos que estivessem me perturbando, já que em casa, tudo que eu perguntava era respondido pelas minhas tias. Certa vez - eu devia ter dez ou onze anos - interroguei-o acerca de um poema que havíamos lido na escola. Uma sentença falava sobre "um jovem cujo rosto não fora marcado pelo pecado do sexo". Eu me acanhara de perguntar à professora o que aquilo significava, e mamãe, quando a interroguei, ficara toda vermelha. Naquela época, nos princípios do século XX, nunca se conversava sobre sexo, nem mesmo em família.

A sentença ficara em minha mente. Pecado eu sabia, era algo que irritava por demais uma das minhas tias; sexo era a diferença entre meninos e meninas. Os dois reunidos, porém, eu não sabia o que vinha a ser. Foi assim que, sentada no trem ao lado de papai, perguntei-lhe de chofre:
- Pai, o que é "pecado do sexo"? 
Ele olhou-me como sempre fazia ao responder uma pergunta, mas, para minha surpresa, não disse nada. Levantou-se, tirou a maleta do porta-volumes acima de nós, e colocou-a no chão.
- Quer carregá-la para mim, Corrie?

Pus-me de pé e peguei a alça. A maleta estava cheia de relógios e peças que ele comprara nesse dia.
- É muito pesada, disse.
- É mesmo, confirmou ele. E eu seria um péssimo pai se exigisse que minha filhinha carregasse todo esse peso. Com os conhecimentos dá-se o mesmo, Corrie. Algumas coisas são pesadas demais para as crianças. Quando você ficar maior, e mais forte, poderá suportá-las. Hoje, porém, tem que confiar em mim e deixar que eu as carregue para você.

Fiquei satisfeita; mais que satisfeita, fiquei em paz. Havia respostas para esta e todas as outras perguntas difíceis que eu tivesse, mas por agora, eu estava tranquila em entregá-las aos cuidados de meu pai.

- Trecho do Livro "O Refúgio Secreto", de Corrie ten Boom.