quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Anonimato de Deus

Ao olharmos para o universo percebemos tudo tão belo e organizado, entretanto onde está o Seu Autor? Se há um Deus no universo, por que Ele deixa a mente humana em suspense e não mostra claramente a sua identidade? Se Ele é onisciente, ou seja, se tem plena consciência de todas as coisas, inclusive das nossas indagações a seu respeito, por que não resolve as dúvidas que há séculos nos perturbam?

O universo todo, incluindo as milhões de espécies da natureza, acusam a existência de um criador. Todavia, apesar de ter feito uma obra fantástica, Ele não quis assiná-la. Por que não? Não quis porque Ele é um mero fruto da nossa mente e, portanto, não existe, ou porque Ele possui uma personalidade que rejeita o exibicionismo? Essa é uma grande questão!

Muitos se tornaram ateus porque não encontraram respostas para suas dúvidas. Outros, no entanto, procuram o Criador com os olhos do coração e, por isso, afirmam encontrar sua assinatura em cada lugar e em cada momento, nas serenatas dos pássaros, na anatomia das flores e até nos sorrisos das pessoas...

É próprio de um autor assinar a sua obra, ainda que com pseudônimo, mas, ao que tudo indica, o Criador deixou que os inumeráveis detalhes da sua criação falassem por si só, fossem a sua própria assinatura.

Alguns administradores públicos realizam pequenas obras, mas, ao inaugurá-las, fazem grandes discursos. O autor da existência, ao contrário, fez obras admiráveis, tão grandes que todas as enciclopédias do mundo não poderiam descrevê-las, contudo não fez nenhum discurso de inauguração.

Ninguém invade a esfera patrimonial de alguém sob pena de, ao fazê-lo, sofrer uma ação judicial. Contudo, estamos vivendo numa propriedade, a Terra, onde dela retiramos o alimento para viver, o ar para respirar e ainda fazemos dela um território para morar. Mas onde está o proprietário deste planeta azul, imergido no tempo e no espaço, que se destaca dos trilhões de outros no cosmos? Por que ele não reivindica o que é seu e nos cobra "impostos" para usufruir sua mais excelente propriedade? Estas são questões importantes!

Existiram em toda a história, homens no campo filosófico e teológico que consumiram grande parte de sua energia mental tentando descobrir os mistérios da existência. E quanto mais perguntaram, mais aumentaram suas dúvidas. Por que o autor da vida não se revela sem rodeios a essa espécie pensante, à qual pertencemos?
Alguns argumentarão: Ele deixou diversos escritos de homens que tiveram o privilégio de conhecer parte dos seus desígnios. Tome como exemplo a Bíblia. Ela tem dezenas de livros e demorou cerca de 1500 anos para ser escrita. Convenhamos que, ainda que possamos mergulhar nos textos bíblicos e ficar encantados com muitas de suas passagens, temos de reconhecer que Deus é um ser misterioso e muito difícil de ser compreendido. Apesar de onipresente, Ele não se mostra claramente, por isso usou homens para escrever algo sobre si.

Isaías foi um dos maiores profetas das Antigas Escrituras. Em um dos seus textos, ele fez uma constatação brilhante sobre uma característica de Deus que só os mais sensíveis conseguem perceber. Disse: "...verdadeiramente Tu é um Deus que se encobre" - Is 45.15

Certo dia, Elias, outro profeta de Israel, atravessava um grande problema. Estava sendo perseguido e corria grave risco de vida. Conflitante, se escondeu da presença dos seus inimigos e perguntava onde estaria o Deus a que ele servia. Este fez surgir um vento impetuoso, mas Ele não estava no vento. Fez surgir um forte fogo, mas também não estava na violência das suas labaredas. Então, para o espanto de Elias, Ele fez surgir uma brisa suave, quase que imperceptível, e lá Ele estava. (1Re 19.11-13)

É próprio do homem amar os aplausos, gostar da aparência, ter prazer no poder e se sentir acima dos seus pares. Amamos os grandes eventos, mas Deus ama as coisas singelas. É preciso enxergar as coisas pequenas para encontrar Aquele que é grande.
Gostamos das torrentes de águas, mas Ele prefere o silêncio da brisa, a umidade anônima dos orvalhos.

- Trecho de "O Mestre da Sensibilidade (Análise da Inteligência de Cristo), de 
Augusto Cury

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