Uma das histórias que Richard Wurmbrand conta é sobre um abade cisterciense entrevistado pela televisão italiana. O entrevistador estava particularmente interessado na tradição cisterciense de viver em silêncio e isolamento. Por isso, perguntou ao abade: "E se, no fim da vida, o senhor viesse a descobrir que o ateísmo está certo, que não existe Deus? Diga me, e se isso fosse verdade?".
O abade replicou: "Santidade, silêncio e sacrifício são belos em si mesmos, mesmo sem promessa de recompensa. Se no final eu descobrisse que Deus não existe, eu ainda sim teria usado bem a minha vida".
Poucos vislumbres do sentido da vida tiveram um impacto maior sobre minhas contemplações do sofrimento do que esse. O primeiro impacto da resposta do abade era uma visão superficial e romântica da glória. Mas então alguma coisa ficou atravessada, como se não se encaixasse. Alguma coisa estava errada. A princípio não consegui definir o que era. Então eu voltei para o grande sofredor cristão, o apóstolo Paulo, e fiquei perplexo com o abismo que havia entre ele e o abade. A resposta de Paulo à pergunta do entrevistador foi totalmente oposta à do abade.
O entrevistador perguntara: "E se ficar provado que seu estilo de vida está baseado em falsidade, e não há Deus?" A resposta do abade, em essência, foi: "De qualquer forma, foi uma vida boa e nobre". Já a resposta de Paulo foi bem diferente. Em I Coríntios 15.19 ele responde: "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens".
Por que Paulo não concordou com o monge? Por que Paulo não disse: "Mesmo se Cristo não ressuscitou dos mortos, e mesmo se não existe Deus, uma vida de amor, trabalho, sacrifício e sofrimento é uma vida boa"?
Porque Paulo sabia que a vida que escolheu seria de dar pena se não houvesse ressurreição. Em outras palavras, o cristianismo, como Paulo o entende, não é a melhor maneira de elevar ao máximo o prazer, se esta vida é tudo o que existe. Paulo nos diz qual é a melhor maneira de tirar o máximo de prazer desta vida: "Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos". - 1 Co 15.32.
O que Paulo quer dizer com a frase "comamos e bebamos" é que, sem a esperança da ressurreição, é melhor buscar os prazeres comuns e evitar sofrimento extraordinário. Essa foi a vida que Paulo rejeitou como cristão. Por isso, se os mortos não ressuscitam, e se não existe Deus no céu, ele não teria esmurrado o seu corpo como fez. Não teria rejeitado bons pagamentos por suas tendas, como fez. Não teria encarado tantas chicotadas e surras com varas. Não teria arriscado sua vida enfrentando ladrões, desertos, rios, cidades, mares e multidões zangadas. Não teria aceito noites sem dormir, frio e nudez. Não teria tolerado por tanto tempo cristãos desviados e hipócritas.
Em lugar disso, ele teria simplesmente levado uma boa vida de conforto e tranqüilidade, como um judeu respeitável com as prerrogativas da cidadania romana.
Quando Paulo diz: "Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos", ele não está dizendo: "Sejamos todos libertinos". O que ele tem em mente é uma vida normal, simples, confortável e comum de prazeres humanos que podemos ter sem nos incomodar com céu ou inferno, pecado ou santidade, Deus ou o diabo — se não existir ressurreição. E o que me deixa pasmo nessa linha de pensamento é que muitos que se dizem cristãos parecem buscar exatamente isso, e o chamam cristianismo.
Sim, havia alegria e um senso de profundo significado no sofrimento de Paulo. Mas a alegria existia somente por causa da esperança alegre que excedia o sofrimento. Isso é o que quer dizer Romanos 5.3-4: "Alegramo-nos nos sofrimentos, pois sabemos que os sofrimentos produzem a paciência, a paciência traz a aprovação de Deus, e esta aprovação cria esperança".
Portanto, existe alegria na aflição. Mas a alegria vem por causa da esperança que a própria aflição está ajudando a criar e aumentar. Por isso, se não existe esperança, Paulo seria tolo em abraçar essa aflição, e ainda mais tolo ao alegrar-se nela. Porém existe esperança. E, por isso, Paulo escolheu um estilo de vida que seria tolo e digno de pena sem a esperança da alegria além do túmulo.
- Trecho do Livro "Em Busca de Deus", de John Piper.
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