Então, Pedro começou a dizer-lhe:
Eis que nós tudo deixamos e te seguimos.
Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há
que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe,
ou pai, ou filhos, ou campos
por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba,
já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães,
filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna.
Qual foi a atitude de Jesus diante do espírito "sacrificial" de Pedro? Pedro dissera: "Eis que nós tudo deixamos e te seguimos". Esse espírito de "autonegação" é elogiado por Jesus? Não, ele é repreendido. Jesus diz: "Ninguém jamais sacrifica alguma coisa por mim que eu não pague de volta multiplicado por cem — sim, em certo sentido ainda nesta vida, sem falar na vida eterna na era futura". A resposta de Jesus indica que a maneira de pensar na autonegação é negar a Si mesmo um bem menor em troca de um bem maior. Em outras palavras, Jesus quer que pensemos no sacrifício de um modo que exclui qualquer autopiedade. Realmente, é exatamente isso o que os textos sobre autonegação ensinam:
Se alguém quer vir após mim, a Si mesmo se negue,
tome a sua cruz e siga-me.
Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á;
e quem perder a vida por causa de
mim e do evangelho salvá-la-á. (Mc 8.34, 35).
Agostinho captou o paradoxo nestes termos:
Se você ama a sua alma, você corre o perigo de ela ser destruída.
Por isso você não deve amá-la,
já que você não quer que ela seja destruída.
Contudo, ao não querer que ela seja destruída, você a ama.
Jesus sabia disso. Essa era a base do seu argumento. Ele não está nos pedindo que sejamos indiferentes quanto a sermos destruídos. Pelo contrário, ele presume que o próprio anseio por vida verdadeira nos fará negarmos a nós mesmos todos os prazeres e confortos menores da vida. Se fôssemos indiferentes ao valor do dom divino da vida, estaríamos desonrando-o. À medida do anseio por vida equivale à quantidade de conforto que você está disposto a entregar para tê-la. A dádiva da vida eterna na presença de Deus será glorificada se estivermos dispostos a "odiarmos nossa vida neste mundo" para tê-la. Nisso consiste o valor, centrado em Deus, da autonegação.
- Trecho do Livro "Em Busca de Deus", de John Piper.
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