Quando voltei do médico para casa com a triste notícia de que minha tia Jans tinha no máximo 3 semanas de vida – por conta da diabetes - fizemos uma reunião de família: mamãe, Tia Anna, papai, Betsie e eu. Todos concordamos em que ela precisava saber logo.
- Vamos contar-lhe todos juntos, papai decidiu, mas eu falarei as palavras necessárias. Talvez... seu rosto se iluminou um pouco, talvez ela se alegre de pensar em tudo que já realizou. Ela dá tanta importância a realizações (obras de caridade). E quem sabe se ela não está certa?
Assim, subimos em fila a escada para os quartos de Tia Jans.
Papai bateu à porta.
- Entre, disse ela. E depois concluiu como sempre fazia, e feche a porta antes que eu pegue uma corrente de ar. Estava sentada à sua mesa redonda de mogno, escrevendo um novo apelo em favor do seu centro para soldados. Ao ver quantas pessoas entravam, largou a caneta. Olhou de um para outro até chegar em mim, e aí soltou uma exclamação sufocada. Era sexta-feira de manhã, e eu ainda não havia levado o resultado do exame para ela.
- Minha querida cunhada, começou papai gentilmente, há uma viagem feliz que cada filho de Deus tem que fazer mais cedo ou mais tarde. Sabe, Jans, alguns vão a ele de mãos vazias, mas você não!
- Todos esses clubes..., aventurou-se Tia Anna.
- Seus panfletos..., ajuntou mamãe.
- O dinheiro que a senhora levantou..., disse Betsie.
- Suas palestras..., comecei.
Nossos bem intencionados esforços, porém, deram em nada. Aquele rosto orgulhoso abateu-se bem diante de nossos olhos. Tia Jans levou as mãos ao rosto e começou a chorar.
- Vazia! disse por fim, entre lágrimas. Como é que se pode dar algo a Deus? Que lhe interessam nossas ninharias?
Enquanto a observávamos quase sem poder acreditar, ela descobriu o rosto e, com lágrimas escorrendo, murmurou:
- Senhor Jesus, eu te agradeço porque temos de ir a ti de mãos vazias. Eu te agradeço porque, na cruz, tu fizeste tudo, tudo mesmo; e é só isto que precisamos saber com certeza, na vida e na morte.
Mamãe a abraçou e as duas ficaram unidas por um momento.
Depois, com um rápido movimento do lenço e um ruidoso assoar do nariz, ela nos fez saber que o instante de sentimentalismos estava findo.
- Se me deixarem a sós, disse, pode ser que eu ainda faça alguma coisa.
Deu uma olhada para papai, e por aqueles olhos sérios passou, de leve, um brilho meio maroto.
- Não que o trabalho importe, Cásper; não importa mesmo; mas - ela nos despachava dali - não vou deixar a mesa atravancada para alguém ter de arrumar para mim.
- Trecho do Livro "Refúgio Secreto", de Corrie ten Boom.
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