sexta-feira, 15 de junho de 2012

Um Pouco de Teologia

A Teolo­gia, em certo sentido, é uma ciência experimental.  
Quando digo que ela é uma ciência experimental "em certo sentido", quero dizer que é igual às outras ciências experimentais sob alguns aspectos, mas não todos. Se você é um geó­logo que estuda minerais, você tem de ir a campo para encontrá-los. Eles não irão até você e, quando você os en­contra, eles não podem escapulir. Toda a iniciativa cabe a você. Os minerais não podem nem ajudá-lo, nem pre­judicá-lo. Agora suponha que você seja um zoólogo que se propôs a tirar fotos de animais em seu hábitat natu­ral. A situação fica um pouco diferente. Os animais sel­vagens não irão ao seu encontro, mas podem fugir de você, e, se você não ficar bem quieto, certamente o fa­rão. Começa a haver aqui um pouquinho de iniciativa por parte deles. 

Passemos a um estágio superior. Suponha que você queira estudar um ser humano. Se ele estiver determinado a não se deixar estudar, você não conseguirá co­nhecê-lo. Vai ser preciso ganhar-lhe a confiança. Nesse caso, a iniciativa se divide igualmente pelos dois lados - para uma amizade, são necessárias duas pessoas. 

Quando se trata do conhecimento de Deus, a ini­ciativa cabe inteiramente a Ele. Se Ele não se revelar, nada que você fizer o capacitará a encontrá-lo. E, na verda­de, ele se dá a conhecer muito mais a certas pessoas que a outras — não porque tenha predileções, mas porque é impossível que ele se revele ao homem cuja mente e cujo caráter estejam em más condições. Da mesma forma, os raios do sol, apesar de também não terem predile­ções, não se refletem tão bem num espelho empoeirado quanto num espelho polido. 

Podemos dizê-lo de outra forma: enquanto nas ou­tras ciências os instrumentos são externos a nós (como o microscópio e o telescópio), o instrumento pelo qual vemos a Deus é nosso próprio ser, nosso ser inteiro. Se o ser do homem não estiver limpo e brilhante, sua vi­são de Deus será turva — como a lua vista por um te­lescópio sujo. É por isso que os povos abomináveis têm religiões abomináveis: eles vêem a Deus através de uma lente suja. Deus só pode se revelar verdadeiramente para ho­mens de verdade. Isso não significa apenas homens in­dividualmente bons, mas homens unidos entre si num único corpo, amando-se e auxiliando-se mutuamente, revelando Deus uns aos outros. Pois é assim que Deus quer que a humanidade seja: como os músicos de uma orquestra, como os órgãos de um corpo.

- Trecho tirado do Livro "Cristianismo Puro e Simples", de C. S. Lewis

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