A Teologia, em certo sentido, é uma ciência experimental.
Quando digo que ela é uma ciência experimental "em certo sentido", quero dizer que é igual às outras ciências experimentais sob alguns aspectos, mas não todos. Se você é um geólogo que estuda minerais, você tem de ir a campo para encontrá-los. Eles não irão até você e, quando você os encontra, eles não podem escapulir. Toda a iniciativa cabe a você. Os minerais não podem nem ajudá-lo, nem prejudicá-lo. Agora suponha que você seja um zoólogo que se propôs a tirar fotos de animais em seu hábitat natural. A situação fica um pouco diferente. Os animais selvagens não irão ao seu encontro, mas podem fugir de você, e, se você não ficar bem quieto, certamente o farão. Começa a haver aqui um pouquinho de iniciativa por parte deles.
Passemos a um estágio superior. Suponha que você queira estudar um ser humano. Se ele estiver determinado a não se deixar estudar, você não conseguirá conhecê-lo. Vai ser preciso ganhar-lhe a confiança. Nesse caso, a iniciativa se divide igualmente pelos dois lados - para uma amizade, são necessárias duas pessoas.
Quando se trata do conhecimento de Deus, a iniciativa cabe inteiramente a Ele. Se Ele não se revelar, nada que você fizer o capacitará a encontrá-lo. E, na verdade, ele se dá a conhecer muito mais a certas pessoas que a outras — não porque tenha predileções, mas porque é impossível que ele se revele ao homem cuja mente e cujo caráter estejam em más condições. Da mesma forma, os raios do sol, apesar de também não terem predileções, não se refletem tão bem num espelho empoeirado quanto num espelho polido.
Podemos dizê-lo de outra forma: enquanto nas outras ciências os instrumentos são externos a nós (como o microscópio e o telescópio), o instrumento pelo qual vemos a Deus é nosso próprio ser, nosso ser inteiro. Se o ser do homem não estiver limpo e brilhante, sua visão de Deus será turva — como a lua vista por um telescópio sujo. É por isso que os povos abomináveis têm religiões abomináveis: eles vêem a Deus através de uma lente suja. Deus só pode se revelar verdadeiramente para homens de verdade. Isso não significa apenas homens individualmente bons, mas homens unidos entre si num único corpo, amando-se e auxiliando-se mutuamente, revelando Deus uns aos outros. Pois é assim que Deus quer que a humanidade seja: como os músicos de uma orquestra, como os órgãos de um corpo.
- Trecho tirado do Livro "Cristianismo Puro e Simples", de C. S. Lewis
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