Deus nos criou como um homem inventa uma máquina. Um carro é feito para ser movido a gasolina. Deus concebeu a máquina humana para ser movida por ele mesmo. O próprio Deus é o combustível que nosso espírito deve queimar, ou o alimento do qual deve se alimentar. Não existe outro combustível, outro alimento. Esse é o motivo pelo qual não podemos pedir que Deus nos faça felizes e ao mesmo tempo não dar a mínima para a religião. Deus não pode nos dar uma paz e uma felicidade distintas dele mesmo, porque fora dele elas não se encontram. Tal coisa não existe.
Deus é o nosso único alento, mas também o nosso terror supremo; é a coisa de que mais precisamos, mas também da qual mais queremos nos esconder. E nosso único aliado possível, e tornamo-nos seus inimigos. Certas pessoas parecem pensar que o encontro face a face com o Bem absoluto seria divertido. Elas devem pensar melhor no que dizem. Estão apenas brincando com a religião. O Bem pode ser o maior refúgio ou o maior perigo, dependendo de como reagimos a ele. E temos reagido mal.
Os cristãos sempre tiveram o costume de polemizar sobre o que conduz o cristão à sua morada: se as boas ações ou se a fé em Cristo. Na verdade, não tenho o direito de falar sobre um assunto tão difícil, mas me parece que é como perguntar qual das lâminas de uma tesoura é a mais importante. O esforço moral sério é a única coisa que pode nos conduzir ao ponto de jogar a toalha. A fé em Cristo é a única coisa que pode nos salvar do desespero nesse ponto: e, dessa fé, é inevitável que surjam boas ações.
No passado, alguns grupos cristãos acusaram outros grupos cristãos de parodiar a verdade de duas formas. O exagero das situações talvez ajude a tornar a verdade mais clara. Um dos grupos era acusado de dizer: "As boas ações são tudo o que interessa. A melhor das boas ações é a caridade. O melhor tipo de caridade é dar dinheiro. A melhor forma de dar dinheiro é fazer uma doação para a Igreja. Logo, faça uma doação de 10.000 libras e garantiremos sua entrada na vida eterna." A resposta a esse absurdo é que as ações feitas com essa intenção, com a idéia de que o Paraíso pode ser comprado, não são boas ações de forma alguma, mas somente especulações comerciais.
Outro grupo era acusado de dizer: "A fé é tudo o que importa. Logo, se você tem fé, não importam as suas ações. Peque à vontade, meu filho, divirta-se a valer, que para Jesus Cristo não vai fazer a mínima diferença no final." A resposta a esse absurdo é que, se o que você chama de "fé" em Cristo não implica dar atenção ao que ele disse, ela não é fé de maneira alguma — nem Fé nem confiança, mas apenas a aceitação mental de alguma teoria a seu respeito.
A Bíblia encerra a discussão quando junta as duas coisas numa única sentença admirável. A primeira metade diz: "Ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor" - o que dá a idéia de que tudo depende de nós e de nossas boas ações; mas a segunda metade complementa: "Pois é Deus que efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar" - o que dá a idéia de que Deus faz tudo, e nós nada. Esse é o tipo de coisa com a qual nos defrontamos no cristianismo.
Um homem que foi simplesmente um homem e disse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande professor de moral. Seria um lunático — do nível do homem que diz que é um ovo escaldado — ou seria o diabo em pessoa. Você precisa escolher. Ou esse homem foi, e é, o Filho de Deus; ou foi um louco ou coisa pior.
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