Em meio a tantos livros que já li no decorrer da minha vida, eu posso dizer que nem todos valem a pena serem re-lido. Poucos são os livros que conseguem deixar a sua marca, que nos fazem ficar com um gostinho de "quero mais", que nos emocionam e que também nos edificam. Foi pensando nesses poucos livros que decidi ao longo desse ano, re-ler um por mês e tentar escrever um pouco da história de cada um aqui. O primeiro que escolhi para o mês de Janeiro é um livro muito especial: "O Diário de Anne Frank". A primeira vez em que o li foi por curiosidade, a segunda vez - que foi esse mês - foi porque ele realmente é um livro que nos emociona, nos edifica e nos faz ver e valorizar tudo que temos a nossa volta, principalmente a liberdade de ir e vir. Bom, segue abaixo um pouco da história do livro:
Em meados de 1933, o pai de Anne - um próspero comerciante alemão, de origem judaica - decide mudar da Alemanha para a Holanda, levando consigo sua esposa e suas duas filhas, Margot e Anne. O intuito era escapar das perseguições do governo nazista aos judeus que se tornavam piores a cada dia.
Instalado em Amsterdã, o pai de Anne começa a trabalhar numa firma de alimentos, chamada Opekta. Os negócios vão bem até que, com a escalada da Segunda Guerra, a Holanda é invadida pela Alemanha e por conta disso, passa a ser vítima da mesma política anti-semita praticada em solo germânico. Como resultado, os judeus perdem toda a sua liberdade de ir e vir, não podendo mais frequentar certos lugares público, bem como fazer compras em certas lojas. As meninas também vêem-se obrigadas a largar suas escolas para estarem estudando numa que seja própria para os judeus. Não bastasse isso, os judeus também começam a ser recrutados e enviados à força para os campos de trabalho na Alemanha.
Diante de todo esse cenário de horror, o pai de Anne planeja mais uma vez fugir com sua família. Dessa vez o lugar escolhido é o anexo da fábrica onde trabalha. Com a ajuda de alguns funcionários, ele discretamente começa a transportar alguns dos pertences de sua família para os fundos da fábrica. Mas antes que ele consiga terminar toda sua mudança e organizar o local onde irá morar, sua filha mais velha - Margot - recebe uma intimação para se apresentar às autoridades. Diante dessa situação, ele e sua família são forçados a se mudarem o quanto antes para o abrigo.
Um pouco antes disso, Anne em seu aniversário de 12 anos, ganha de seu pai um diário onde ela, chamando-o de Kitty, passa a relatar detalhadamente toda a tensão da fuga, a reação que sua mãe e sua irmã tiveram ao verem o abrigo pela primeira vez, a disposição que seu pai e ela tiveram em arrumar o lugar e deixá-lo o mais confortável possível, a chegada de uma segunda família - o casal Van Daan com seu filho Peter - e mais tarde, a expectativa de estar recebendo mais um abrigado, o dentista Albert Dussel. Ela também relata em seu diário, de uma maneira bem humorada, toda a sua rotina no anexo, bem como o seu convívio com outros abrigados, ou melhor, "mergulhados, como eles se auto-definem. Ela descreve com precisão cada cômodo do abrigo, o horário que acorda, suas refeições, as brigas dos demais, as gentilezas dos funcionários que estão ajudando a mantê-los bem escondidos, seus desentendimentos com sua mãe, sua admiração pelo seu pai e toda dedicação que tem em estudar e manter-se atualizada acerca do mundo.
No diário, ela também não deixa de abordar temas tão polêmicos em que se viu obrigada a presenciar, tais como a guerra, a política e a perseguição aos judeus. E por ser apenas uma garota normal que está começando a viver a fase mais delicada chamada adolescência, ela sente necessidade de escrever no seu diário e ali, aliviar seu coração acerca de seus sentimentos.
Esse livro não se trata de uma produção de menina-prodígio, lançado e explorado pela família comercialmente, mas sim de uma autêntica obra de arte. O isolamento, os sacrifícios diários, as angústias, o medo e principalmente, a morte a pairar sobre essa menina, fizeram com que ela amadurecesse prematuramente e fosse assim, pouco a pouco, penetrando em regiões, que em circunstâncias normais, só viria a explorar muito mais tarde.
Quem lê essa obra não pode deixar de notar o crescimento de Anne como pessoa, mesmo estando confinada naquele pequeno Anexo. As passagens inicialmente ingênuas dão lugar a argumentações filosóficas e questionamentos complexos que deixam qualquer um de queixo caído.
Ah, quantas pérolas eu pude tirar desse livro. Se eu fosse colocar todos eles aqui, não haveria fim. Quantos conselhos essa menina de apenas 13 deixou registrado ali em seu diário. Eu posso dizer sem a menor dúvida, que ela realmente conseguiu realizar o seu maior sonho. Ela não viveu a tempo de se tornar uma jornalista ou uma escritora, mas o seu sonho de continuar viva depois da morte, esse com certeza se realizou.
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