segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Paixão e Paciência


Em certo quarto apertado, haviam dois menininhos sentados, cada qual em sua cadeira. O nome do mais velho era Paixão, e o outro chamava-se Paciência. Paixão parecia muito insatisfeito, mas Paciência permanecia bem tranquilo. O motivo do descontentamento de Paixão era porque seu tutor queria que ele esperasse, pois as melhores coisas viriam no início do ano que vem. Mas ele as queria agora. Paciência no entanto se dispunha a aguardar.

Então alguém se aproximou de Paixão e, trazendo-lhe um saco, derramou um tesouro aos seus pés. Ele o tomou, alegrou-se e ainda riu-se de Paciência, zombeteiro. Mas logo paixão dissipou de tudo o que tinha ganhado, nada lhe restando senão farrapos.

Esses dois meninos são simbólicos: Paixão representa os homens deste mundo, e Paciência, os homens do mundo que há de vir. Paixão quer tudo agora, este ano, ou seja, neste mundo. São assim os homens deste mundo; eles precisam ter todas as boas coisas agora; não podem aguardar até o ano que vem, ou seja, até o mundo vindouro, para receber o seu quinhão de benefícios.

O provérbio "Mais vale um pássaro na mão do que dois voando" tem para eles mais autoridade do que todos os testemunhos divinos do bem do mundo que há de vir. Mas como vimos, Paixão esbanjou tudo rapidamente, e nada lhe restou agora senão farrapos. Assim acontecerá aos homens dessa espécie quando do final deste mundo.

A glória do mundo vindouro, pelo qual Paciência aguardam jamais se gastará, mas as daqui subitamente passam. Sendo assim, Paixão não teve tanto motivo para rir de Paciência só por ter recebido as boas coisas primeiro. Quanto a Paciência, terá de rir-se de Paixão por receber as melhores coisas por último, pois o primeiro precisa dar lugar ao último, já que o último também terá a sua hora. O último, porém, não cede o lugar a ninguém, pois não há quem venha depois dele. 

Aquele portanto que recebe primeiro o seu quinhão deve sem dúvida ter a oportunidade de gastá-lo; porém aquele que receber a sua porção por último a terá para sempre.

- Trecho tirado do livro "O Peregrino", de John Bunyan.

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