- Já se acostumou com a idéia de ir à Espanha? perguntou ele.
Alguma coisa como que "ligou", mecanicamente, na cabeça de Cris, e ela respondeu:
- Sim, acredito que isso é plano de Deus e sei que ele vai fazer tudo dar certo. Estou aprendendo a confiar nele de uma maneira nova.
Um sorriso lento iluminou o rosto de Jakobs.
- Penso que você está me falando através das flores.
Embora o inglês de Jakobs fosse muito bom, às vezes não era bem claro no que desejava expressar. Cris perguntou o que ele queria dizer com "falar através das flores".
Ele parecia um pouco envergonhado.
- É uma expressão que temos em minha terra, em Riga. Usamo-la para dizer que uma pessoa encobre suas palavras com coisas bonitas, ao invés de expressar o que realmente sente. Assim você está "falando comigo através das flores".
Cris sabia que Jakobs tinha razão. Procurava parecer corajosa e espiritual, mas na verdade, estava mesmo era apavorada. Teria coragem de lhe dizer? Ele parecia uma pessoa confiável.
- Na verdade, estou com medo.
Ele olhou para ela com compaixão e perguntou:
- De quê?
- De me perder. De perder os trens.
- Aí você pega o trem seguinte.
- Mas, e se eu não conseguir achar o trem certo? E se alguma coisa acontecer e eu perder a bagagem ou o passaporte?
- Vá à sua embaixada, peça outro passaporte e use a mesma roupa dois dias seguidos.
Cris não sabia se ele estava brincando ou tentando ajudar (...) Ela achava que ele tinha uma visão muito simplista da vida. Então apresentou-lhe o pior fato que poderia acontecer.
- E seu eu for atacada, ou assassinada? Voltando o sorriso aos lábios, Jakobs disse:
- Então você morrerá e estará com o Senhor para sempre, e talvez eu tenha inveja de você por estar indo ao céu antes de mim.
Cris sorriu. Jakobs tinha uma perspectiva eterna da vida. Com um pensamento tão ligado no céu, era difícil ver a possibilidade de algo mau acontecer. No dicionário de Jakobs, parecia não existir o vocábulo "tragédia". Ela bebeu o último gole de chá morno, e disse:
- Nos Estados Unidos certamente nós o chamaríamos de "tipo Polyana". Quer dizer, alguém que só vê o lado bom de uma situação.
- Em Riga, você provavelmente me diria "vá soprar paios", disse Jakobs, rindo-se de sua própria piadinha.
- Soprar patos?
- É nosso jeito de dizer "ir embora". Não é todo mundo que fala assim, só alguns dos meus amigos. Se um dia for a Riga, evite usar essa expressão com os outros. Principalmente com o oficial encarregado de examinar seu visto de entrada.
Cris não conseguiria imaginar qual seria sua impressão ao visitar um país como a Letônia. A Espanha já era suficientemente exótica a seu ver.
Espanha. A lembrança repentina da Espanha a deixou paralisada. Certamente os sentimentos estavam na cara, porque Jakobs perguntou:
- Você está novamente com medo dos trens? Cris sabia que não adiantava tentar "falar através das flores" com ele.
- Um pouco.
- Qual o seu versículo? perguntou Jakobs.
- Meu versículo?
- Você precisa de um versículo. Algo da Palavra de Deus que deverá plantar no seu coração para a viagem.
- Para plantar no jardim do meu coração? perguntou ela, lembrando-se do poema da Trícia.
- Sim. Você precisa de uma promessa para... como se diz? Segurado sobre?
- Você quer dizer para me segurar, disse Cris. Você acha que eu preciso de um versículo especial para me apoiar.
- Sim. É isso.
- Você tem um versículo?
Jakobs acenou que sim e disse umas palavras no melodioso idioma letão.
- É Jeremias 1.7-8: "Mas o Senhor me disse: Não digas não passo de uma criança; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto eu te mandar, falarás. Não temas diante deles; porque eu sou contigo para te livrar, diz o Senhor."
- Perfeito! É exatamente o que eu sinto.
- Este é o meu versículo, disse Jakobs, segurando a Bíblia de Cris junto ao peito. Você precisa procurar o seu.
- Ah, vá soprar patos, disse Cris, brincando. Posso ficar com o mesmo versículo se eu quiser. Agora, devolva a minha Bíblia! Jakobs riu e retrucou:
- Você se sairá muito bem em sua nova cultura. Não estou preocupado com você de maneira alguma.
- Trecho do Livro "Uma Promessa é Para Sempre - Série Cris 12", de Robin Jones Gunn.
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