Circula por aí a idéia tola de que as pessoas virtuosas não conhecem as tentações. Trata-se de uma mentira deslavada. Só os que tentam resistir às tentações sabem quão fortes elas são. Afinal de contas, para conhecer a força do exército alemão, temos de enfrentá-lo, e não entregar as armas. Para conhecer a intensidade do vento, temos de andar contra ele, e não deitar no chão.
Um homem que cede à tentação em cinco minutos não tem a menor idéia de como ela seria uma hora depois. Por esse motivo, as pessoas más, em certo sentido, sabem muito pouco a respeito da maldade. Na medida em que sempre se rendem, levam uma vida protegida. É impossível conhecer a força do mal que se esconde em nós até o momento em que decidimos enfrentá-lo; e Cristo, por ter sido o único homem que nunca caiu em tentação, é também o único que conhece a tentação em sua plenitude - o mais realista de todos os homens.
Pois bem. A principal coisa que aprendemos quando tentamos praticar as virtudes cristãs é que fracassamos. Se tínhamos a idéia de que Deus nos impunha uma espécie de prova na qual poderíamos merecer passar por tirar boas notas, essa idéia tem de ser eliminada. Se tínhamos a idéia de uma espécie de barganha — a idéia de que poderíamos cumprir a parte que nos cabe no contrato e deixar Deus em dívida conosco, de tal modo que, por uma questão de justiça, ele ficasse obrigado a cumprir a parte dele —, ela deve ser eliminada também.
- Trecho do Livro "Cristianisno Puro e Simples", de C. S. Lewis.
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