Não faça isso. Não vá para esse trabalho que você odeia. Faça algo de que goste hoje.
Ande de montanha russa. Nade pelado no mar. Vá para o aeroporto e pegue o próximo voo para qualquer lugar apenas por diversão. Gire um globo terrestre, pare-o com o dedo e, em seguida, planeje uma viagem para aquele lugar. Mesmo que seja no meio do oceano, você poderá ir de barco. Coma alguma comida exótica da qual nunca ouviu falar. Pare um estranho e peça a ele para lhe explicar em detalhes seus maiores medos, suas esperanças e aspirações secretas, e em seguida diga-lhe que você se importa. Porque ele é um ser humano.
Sente-se na calçada e faça desenhos com giz colorido. Feche os olhos e tente ver o mundo com seu nariz – permita que o olfato seja a sua visão. Ponha o sono em dia. Ligue para um velho amigo que você não vê há anos. Arregace as pernas da calça e entre no mar. Assista a um filme estrangeiro. Alimente esquilos. Faça alguma coisa! Qualquer coisa! Porque você inicia uma revolução, uma decisão de cada vez, toda vez que respira. Só não volte para aquele lugar miserável para onde vai todos os dias.
Mostre-me que é possível ser adulto e também ser feliz. Por favor. Este é um país livre. Você não precisa continuar fazendo isso caso não queira. Você pode fazer o que desejar. Ser quem quiser. Isso é o que eles nos dizem na escola, mas se você continuar entrando naquele trem e indo para o lugar que você odeia, vou começar a achar que as pessoas na escola são mentirosas, como os nazistas, que disseram aos judeus que eles estavam apenas sendo transferidos para trabalhar nas fábricas.
Não faça isso conosco. Diga-nos a verdade. Se ser adulto significa trabalhar a vida inteira em algum campo de concentração que você odeia, se divorciar do marido criminoso, se decepcionar com seu filho, ficar estressada e infeliz, namorar um impostor e fingir que ele é um herói quando, na verdade, ele é uma pessoa ruim, qualquer um consegue ver isso só de apertar a sua mão pegajosa – se as coisas não forem melhorar mesmo, eu preciso saber agora. Apenas me diga. Poupe-me da porra de um destino terrível. Por favor.
- Trecho do Livro "Perdão, Leonard Peacock, de Matthew Mquick.